24/12/2012

Frases e Pensamentos de Cecília Meireles

  • A arte de amar e a mesma de ser poeta.

  • Para que tu me adivinhes, entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, ponho vestidos noturnos, - que amargamente inventei.
  • Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.
  • Pus-me a cantar minha pena com uma palavra tão doce, de maneira tão serena, que até Deus pensou que fosse felicidade - e não pena. Anjos de lira dourada debruçaram-se da altura. Não houve, no chão, criatura de que eu não fosse invejada, pela minha voz tão pura. Acordei a quem dormia, fiz suspirarem defuntos. Um arco-íris de alegria da minha boca se ergue apondo o sonho e a vida juntos. O mistério do meu canto, Deus não soube, tu não viste. Prodígio imenso do pranto: - todos perdidos de encanto, só eu morrendo de triste! Por assim tão docemente meu mal transformar em verso, oxalá Deus não o ausente, para trazer o Universo de pólo a pólo contente!
  • Traze-me um pouco das sombras serenas que as nuvens transportam por cima do dia! Um pouco de sombra, apenas, - vê que nem te peço alegria.
  • Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira.
  • Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.
  • Meus pés vão pisando a terra Que é a imagem da minha vida: Tão vazia, mas tão bela Tão certa , mas tão perdida!
  • Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; Há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam. Mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossa vida... E que marcam para sempre...
  • Adestrei-me com o vento e minha festa é a tempestade.
  • Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa.
  • Nunca tive os olhos tão claros e o sorriso em tanta loucura. Sinto-me toda igual às árvores: solítária, perfeita e pura.
  • Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve,para que venhas comigoe eu para sempre te leve...
  • O escritor é a pessoa que diz o que muitos sentem e não sabem expressá-lo. Nossa responsabilidade é de dizer essas coisas com clareza. E há, também, essas coisas que nem todas as pessoas sentem, mas que o escritor ensina a sentir.
  • Neste mês, as cigarras cantam e os trovões caminham por cima da terra, agarrados ao sol. Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas, e depois a noite é mais clara, e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão.
  • A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade.
  • Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão.
  • Tenho fases, como a lua. Fases de andar escondida fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Tenho fases de ser tua tenho outras de ser sozinha.
  • Fases que vão e que vêm no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém.
  • No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...
  • Parei as águas do meu sonho para teu rosto se mirar. Mas só a sombra dos meus olhos ficou por cima, a procurar...
  • Os pássaros da madrugada não têm coragem de cantar, vendo o meu sonho interminável e a esperança do meu olhar.
  • Procurei-te em vão pela terra, perto do céu, por sobre o mar. Se não chegas nem pelo sonho, por que insisto em te imaginar ?
  • Quando vierem fechar meus olhos, talvez não se deixem fechar. Talvez pensem que o tempo volta, e que vens, se o tempo voltar.
  • Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste: sou poeta.
  • Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento.
  • Se desmorono ou edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
  • Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada. E sei que um dia estarei mudo: - mais nada.
  • Traze-me um pouco da alvura dos luares que a noite sustenta no teu coração! A alvura, apenas, dos ares: - vê que nem te peço ilusão.
  • Traze-me um pouco da tua lembrança, aroma perdido, saudade da flor! -Vê que nem te digo - esperança! -Vê que nem sequer sonho - amor!
  • Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve... - mas só esse eu não farei.
  • Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes...- palavra que não direi.
  • E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando...e um dia me acabarei.
  • Não te fies do tempo nem da eternidade, que as nuvens me puxam pelos vestidos que os ventos me arrastam contra o meu desejo! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo!
  • Não demores tão longe, em lugar tão secreto, nácar de silêncio que o mar comprime, o lábio, limite do instante absoluto! Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te escuto!
  • Aparece-me agora, que ainda reconheço a anêmona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo... Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã eu morro e não te digo...
  • ... Permita que eu feche os meus olhos, pois é muito longe e tão tarde! Pensei que era apenas demora, e cantando pus-me a esperar-te. Permite que agora emudeça: que me conforme em ser sozinha.
  • Há uma doce luz no silencio, e a dor é de origem divina. Permite que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo, e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo ...
  • O meu amor não tem importância nenhuma. Não tem o peso nem de uma rosa de espuma!
  • Desfolha-se por quem? Para quem se perfuma? O meu amor não tem importância nenhuma.
  • Quando penso em você fecho os olhos de saudade Tenho tido muita coisa, menos a felicidade.
  • Correm os meus dedos longos em versos tristes que invento Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento.
  • Pode ser até manhã, cedo claro feito dia mas nada do que me dizem me faz sentir alegria.
  • Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa Para correr entre os canteiros e esconder minha tristeza.
  • Que eu ainda sou bem moço para tanta tristeza E deixemos de coisa, cuidemos da vida.
  • Pois se não chega a morte ou coisa parecida E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.
  • Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva!
  • Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
  • Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro!
  • Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranqüilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.
  • Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim. Rosas verá, só de cinzas franzidas, mortas, intactas pelo teu jardim.
  • Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim. E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim.
  • Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acabas todo dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno.
  • Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; - depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar. Minhas mãos ainda estão molhadas o azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos olore as areias desertas. O vento vem vindo de longe, a noite se curva de frio; debaixo da água vai morrendo meu sonho, dentro de um navio... Chorarei quanto for preciso, para fazer com que o mar cresça, e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho desapareça. Depois, tudo estará perfeito; praia lisa, águas ordenadas, meus olhos secos como pedras e as minhas duas mãos quebradas.
  • Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garganta, mais leve. E o que lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve. E o desejo rápido desse mais antigo instante, mais leve. E a fuga invisível do amargo passante, mais leve.
  • Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa? E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte? Que vale o pensamento humano, esforçado e vencido, na turbulência das horas? Que valem a conversa apenas murmurada, a erma ternura, os delicados adeuses? Que valem as pálpebras da tímida esperança, orvalhadas de trêmulo sal? O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis, no profundo diagrama. E o homem tão inutilmente pensante e pensado só tem a tristeza para distingui-lo. Porque havia nas úmidas paragens animais adormecidos, com o mesmo mistério humano: grandes como pórticos, suaves como veludo, mas sem lembranças históricas, sem compromissos de viver. Grandes animais sem passado, sem antecedentes, puros e límpidos, apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas e na seda longa das crinas desfraldadas. Mas a noite desmanchava-se no oriente, cheia de flores amarelas e vermelhas. E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes, erguiam no ar a vigorosa cabeça, e começavam a puxar as imensas rodas do dia. Ah! o despertar dos animais no vasto campo! Este sair do sono, este continuar da vida! O caminho que vai das pastagens etéreas da noite ao claro dia da humana vassalagem! 
  • Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . . o céu de outono, anda um langor final de pluma Que se desfaz por entre os dedos, vagamente . . . Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . . Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma . . . Fica-se longe, quase morta, como ausente . . . Sem ter certeza de ninguém . . . de coisa alguma . . . Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente, De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma . . . E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . . Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . . A alma das flores, suave e tácita, perfuma A solitude nebulosa e irreal do ambiente . . . Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . . Tão para lá! . . . No fim da tarde . . . além da bruma . . . E silenciosos, como alguém que se acostuma A caminhar sobre penumbras, mansamente, Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma . . . Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma . . . E os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .
  • É preciso não esquecer nada: nem a torneira aberta nem o fogo aceso, nem o sorriso para os infelizes nem a oração de cada instante. É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre. O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos a idéia de recompensa e de glória. O que é preciso é ser como se já não fôssemos vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence.
  • Minha esperança perdeu seu nome... Fechei meu sonho, para chamá-la. A tristeza transfigurou-me como o luar que entra numa sala. O último passo do destino parará sem forma funesta, e a noite oscilará como um dourado sino derramando flores de festa. Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes. E um campo de estrelas irá brotando atrás das lembranças ardentes.


 

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